Durante o reinado do Faraó Khafre, esta monumental criatura com corpo de leão e cabeça humana tem fascinado e intrigado visitantes por milênios. Na verdade, os árabes a chamam de Abu al-Hawl, que significa "Pai do Terror" — um nome que reflete sua imponente presença.
A esfinge não era apenas uma estrutura impressionante, mas também um símbolo poderoso de realeza e vida após a morte. Originalmente pintada com cores vibrantes, conforme indicado por traços de pigmentos encontrados na estátua, ela servia como guardiã dos túmulos dos faraós.
Além disso, durante o Novo Reino (1570-1069 a.C.), era conhecida como Horemakhet, significando "Hórus no horizonte", associando-a à importante divindade Hórus. Apesar de sua magnificência bem preservada, muitos ainda se perguntam o que aconteceu com seu nariz ausente — um mistério que perdura através dos séculos.
A criação da Grande Esfinge de Gizé
A colossal estátua da Grande Esfinge de Gizé não surgiu por acaso no deserto egípcio. Esculpida diretamente na rocha do planalto de Gizé, esta imponente criatura representa a mais antiga escultura monumental conhecida no Egito antigo.
Seu tamanho é verdadeiramente impressionante: 73,5 metros de comprimento, 19,3 metros de largura e 20,22 metros de altura, configurando-a como a maior estátua monolítica do mundo.
A maioria dos egiptólogos modernos concorda que a Grande Esfinge foi construída por volta de 2500 a.C., durante o Reino Antigo egípcio. Embora existam debates sobre quem ordenou sua construção, a teoria mais aceita atribui a obra ao faraó Quéfren (também conhecido como Khafre), que governou entre 2558 e 2532 a.C..
No entanto, alguns estudiosos sugerem que seu irmão Ratoises ou até mesmo seu pai Quéops poderiam ser os responsáveis.
Além disso, a construção da Esfinge estava integrada ao complexo funerário que incluía a Segunda Pirâmide de Gizé, tradicionalmente associada a Quéfren.
Este complexo também abrangia o Templo da Esfinge e o Templo do Vale, que apresentam design similar em seus pátios internos. Um indício adicional que reforça a teoria de Quéfren é uma estátua de diorito deste faraó encontrada enterrada no Templo do Vale.
Durante o processo de construção, os blocos cortados do recinto da Esfinge foram utilizados para edificar o Templo da Esfinge, enquanto o Templo do Vale foi construído com blocos extraídos do planalto, alguns pesando mais de 100 toneladas.
A estrutura geológica da Esfinge revela detalhes interessantes sobre sua criação. O calcário nummulítico da região possui camadas com diferentes resistências à erosão, o que explica a degradação desigual visível no corpo da estátua.
A parte inferior do corpo, incluindo as pernas, é composta de rocha sólida, enquanto o corpo do leão até o pescoço foi esculpido em camadas mais suaves que sofreram maior desintegração. Já a cabeça foi talhada em uma camada muito mais dura, o que explica seu melhor estado de conservação.
Evidências arqueológicas mostram que a Esfinge originalmente apresentava cores vibrantes. Resíduos de pigmento vermelho ainda são visíveis em áreas do rosto, e traços de pigmentos amarelo e azul foram encontrados em outras partes do monumento.
Isso sugere que, quando recém-construída, a estátua exibia uma policromia vívida que contrastava com a paisagem desértica.
Mistérios e lendas que cercam a esfinge
Ao longo dos séculos, a Grande Esfinge de Gizé tem sido fonte de inúmeros mistérios e lendas, desafiando historiadores e fascinando entusiastas do mundo inteiro. Entre seus enigmas mais famosos está o desaparecimento de seu nariz, que originalmente media cerca de um metro de largura.
Durante muito tempo, este dano foi erroneamente atribuído às tropas de Napoleão ou aos mamelucos que supostamente usaram a estátua como alvo de artilharia.
No entanto, um desenho do explorador Frederick Lewis Norden de 1755 já mostra a esfinge sem o nariz, muito antes da chegada de Napoleão ao Egito.
A teoria mais aceita atualmente sugere que entre os séculos XVI e XVII, grupos de cristãos coptas ou otomanos danificaram deliberadamente o monumento. Esta prática estava relacionada ao conceito de iconoclastia - a destruição intencional de imagens sagradas.
Os antigos egípcios acreditavam que as estátuas possuíam poderes sobrenaturais. O nariz, especificamente, era considerado a fonte do sopro da vida. "O nariz era a fonte do fôlego, o fôlego da vida; a maneira mais fácil de matar o espírito interior era sufocá-lo removendo o nariz", explica Edward Bleiberg, curador do Brooklyn Museum.
Outro intrigante relato envolve o faraó Tutmés IV e a chamada "Estela do Sonho". A lenda conta que o jovem príncipe adormeceu à sombra da esfinge parcialmente coberta por areia. Em sonho, a criatura prometeu-lhe o trono em troca de sua libertação da areia acumulada. Após tornar-se faraó, Tutmés IV ordenou a restauração do monumento e ergueu uma estela comemorativa entre suas patas, que permanece lá até hoje.
Pesquisas recentes da Universidade de Nova York sugerem uma teoria surpreendente: o corpo da esfinge pode não ter sido inteiramente esculpido por humanos, mas formado naturalmente pela erosão do vento, sendo posteriormente aperfeiçoado pelos artistas egípcios.
Além disso, especula-se sobre a existência de câmaras secretas e passagens ocultas dentro da estrutura, que poderiam conter tesouros ou artefatos importantes relacionados aos faraós.
A Grande Esfinge ao longo dos séculos
Após sua grandiosa construção, a Grande Esfinge de Gizé enfrentou um destino que poucos poderiam prever: o abandono. Quando o Complexo de Gizé foi deixado de lado, a areia do deserto gradualmente soterrou o monumento até seus ombros.
A primeira tentativa documentada de escavação ocorreu por volta de 1400 a.C., quando o jovem faraó Tutmés IV (1401-1391 a.C.) reuniu uma equipe para desenterrar as patas dianteiras da estátua. Entre elas, colocou a famosa "Estela do Sonho", uma placa de granito que registrava sua visão onírica com a esfinge.
Posteriormente, acredita-se que Ramsés II (1279-1213 a.C.) tenha realizado uma segunda tentativa de restauração. No entanto, apenas em 1817 iniciou-se a primeira escavação arqueológica moderna, supervisionada pelo capitão italiano Giovanni Battista Caviglia, que conseguiu desenterrar completamente o peito da esfinge.
O monumento só foi totalmente revelado entre 1925 e 1936, durante escavações lideradas por Émile Baraize.
Em 1926, parte do turbante da estátua caiu devido à erosão, levando a uma operação de reparo em 1931, quando engenheiros do governo egípcio restauraram sua cabeça. Além disso, o monumento sofreu com diversos fatores ambientais ao longo dos milênios:
- O vento, a areia e a água desgastaram progressivamente sua superfície de calcário
- A poluição moderna acelerou significativamente esse processo
- Paradoxalmente, a areia que cobriu a esfinge por séculos também serviu como escudo protetor
Durante o período medieval, os sabianos de Harrã consideravam o local como sepultamento de Hermes Trismegisto, enquanto autores árabes a descreviam como um talismã protetor da região desértica. Almacrizi chegou a chamá-la de "talismã do Nilo", do qual os moradores locais acreditavam depender o ciclo das cheias.
A partir do Novo Império, a esfinge passou a ser associada ao deus Hórus, sendo conhecida como Horemakhet ("Hórus no horizonte"). Nesse período, tornou-se local de culto, recebendo um templo construído pelo faraó Amenófis II (1425-1401 a.C.).
Atualmente, a Grande Esfinge continua sendo um símbolo cultural importante e atração turística fundamental, com iniciativas contínuas de conservação para proteger esse patrimônio histórico incomparável das futuras gerações.
Conclusão
Ao longo dos séculos, a Grande Esfinge de Gizé permanece como testemunha silenciosa da grandiosidade da civilização egípcia antiga. Originalmente esculpida como símbolo de poder real e guardiã dos túmulos faraônicos, seu verdadeiro significado transcendeu o tempo, transformando-a em ícone mundial.
Certamente, as questões sobre sua construção, significado religioso e as várias tentativas de restauração revelam a complexa relação da humanidade com este monumento extraordinário.
A história da Esfinge reflete, portanto, os ciclos de glória, abandono e redescoberta que caracterizam muitas maravilhas do mundo antigo.
Seus mistérios - desde o famoso nariz desaparecido até as possíveis câmaras secretas - continuam alimentando o fascínio coletivo por este guardião milenar. Além disso, a resistência da estátua frente às adversidades do tempo, clima e intervenções humanas demonstra a excepcional habilidade dos construtores egípcios.
Os esforços contínuos de conservação representam o reconhecimento da importância deste patrimônio inestimável. Sem dúvida, a Grande Esfinge não é apenas uma relíquia do passado, mas um símbolo vivo da engenhosidade humana e nossa busca por transcendência.
Finalmente, enquanto admiramos sua imponente silhueta contra o horizonte de Gizé, somos lembrados que, mesmo após 4.500 anos, este guardião enigmático continua a inspirar reverência e despertar nossa curiosidade sobre as realizações extraordinárias de nossos ancestrais.
Mais perguntas sobr a Esfinge
Q1. Qual é a origem e o significado da Grande Esfinge de Gizé?
A Grande Esfinge de Gizé foi construída por volta de 2500 a.C., durante o reinado do Faraó Khafre. Com corpo de leão e cabeça humana, ela simbolizava o poder real e atuava como guardiã espiritual das pirâmides e do complexo funerário de Gizé.
Q2. O que aconteceu com o nariz da Esfinge?
O desaparecimento do nariz da Esfinge é um mistério antigo. Embora muitos acreditem que foi destruído por tropas de Napoleão, evidências sugerem que o dano ocorreu muito antes, possivelmente entre os séculos XVI e XVII, por grupos que praticavam a iconoclastia.
Q3. Quais são as dimensões da Grande Esfinge?
A Grande Esfinge de Gizé é uma estrutura monumental, medindo 73,5 metros de comprimento, 19,3 metros de largura e 20,22 metros de altura. Essas dimensões a tornam a maior estátua monolítica conhecida do mundo antigo.
Q4. Como a Esfinge foi preservada ao longo dos séculos?
Ironicamente, a areia do deserto que cobriu a Esfinge por séculos ajudou a preservá-la. No entanto, ela também sofreu com erosão e poluição. Várias tentativas de restauração foram realizadas ao longo da história, incluindo escavações modernas no século XX e esforços contínuos de conservação.