A Cidadela de Qaitbay foi construída em 1477 sobre as ruínas do famoso Farol de Alexandria. Erguida para proteger a cidade dos otomanos, acabou sendo conquistada por eles em 1517.
Situada em uma península no Porto Oriental, foi parcialmente destruída por bombardeios em 1882 e restaurada no século 20.
Muitas pedras vieram do antigo farol, derrubado por terremotos. Hoje, abriga um museu naval, já foi mesquita por séculos e é um dos pontos turísticos mais icônicos do Egito.

A origem da Cidadela de Qaitbay
A história da imponente Cidadela de Qaitbay começa com a visão de um sultão que deixou um legado duradouro no Egito medieval.
Sua construção representa não apenas uma estratégia militar, mas também uma continuidade histórica em um local de grande importância.
Quem foi o sultão Qaitbay
Al-Ashraf Sayf ad-Din Qa'it Bay foi o décimo-oitavo Sultão mameluco Burji do Egito, governando entre 1468 e 1496.
De origem circassiana, ele foi comprado pelo nono sultão Barsbay antes de ser libertado pelo sultão Jaqmaq.
Durante seu reinado, Qaitbay conseguiu estabilizar o Estado e a economia mameluca, além de consolidar as fronteiras do sultanato com o Império Otomano.
Apesar de ter participado de pelo menos dezesseis campanhas militares, Qaitbay ficou mais conhecido por seu patronato às artes e à arquitetura.
Seu legado arquitetônico se estendeu por várias cidades importantes, incluindo Meca, Medina, Jerusalém, Damasco, Alepo, Alexandria e praticamente todos os cantos do Cairo.
Por que a fortaleza foi construída
A principal motivação para a construção da cidadela foi a proteção de Alexandria contra as ameaças do Império Otomano. Em 1477 (ano 882 no calendário islâmico), o sultão Qaitbay ordenou a construção desta fortaleza defensiva.
A cidadela foi concebida como uma estrutura militar estratégica, com um design que permitia o monitoramento das atividades marítimas a partir de sua posição elevada.
No terceiro andar, havia uma câmara do trono onde o próprio sultão Qaitbay costumava vigiar os navios que se aproximavam da costa alexandrina.
A escolha do local: Ilha de Pharos
A fortaleza foi estrategicamente erguida no lado norte da ponta da Ilha de Pharos, no porto leste de Alexandria.
Esta localização oferecia vantagens defensivas significativas, com o Mar Mediterrâneo cercando a estrutura por três lados.
O que torna o local ainda mais fascinante é que Qaitbay escolheu construir sua cidadela sobre as ruínas do lendário Farol de Alexandria. No século XV, o antigo farol já havia desmoronado completamente devido a repetidos terremotos.
Portanto, o sultão aproveitou as fundações ainda sólidas da estrutura original para estabelecer sua fortaleza costeira.
A cidadela apresenta um layout quadrado de aproximadamente 150 por 130 metros, sendo construída com pedras caídas do próprio Farol de Alexandria, reaproveitando assim os materiais desta antiga maravilha do mundo.
Esta decisão, embora prática do ponto de vista construtivo, resultou na destruição final dos últimos vestígios do monumento histórico.

A conexão com o lendário Farol de Alexandria
A ligação entre a Cidadela de Qaitbay e o antigo Farol de Alexandria vai muito além da simples ocupação do mesmo espaço geográfico.
Esta conexão representa um fascinante exemplo de como monumentos históricos se transformam e se perpetuam através dos séculos.
O que restou do Farol de Pharos
O lendário Farol de Alexandria, uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, foi severamente danificado por terremotos em 956, 1303 e 1323.
A estrutura, que atingia entre 110 e 130 metros de altura, desapareceu completamente em 1480. No entanto, seu legado permaneceu submerso por séculos até importantes descobertas arqueológicas modernas.
Em 1968, uma expedição patrocinada pela UNESCO e liderada por Honor Frost confirmou a existência de ruínas representando parte do farol.
Posteriormente, em 1994, arqueólogos liderados por Jean-Yves Empereur redescobriram restos físicos do farol no fundo do Porto Oriental de Alexandria.
Estas descobertas incluíram blocos gigantes de granito pesando entre 40 e 60 toneladas cada, além de 30 estátuas de esfinges e 5 colunas de obeliscos.
Materiais reutilizados na construção
Quando o sultão Qaitbay decidiu construir sua fortaleza no final do século XV, aproveitou estrategicamente as fundações existentes do farol destruído.
As maiores pedras da cidadela, especialmente aquelas que formam o lintel e o portal de sua entrada, foram recuperadas das ruínas da enorme torre.
Além disso, as colunas de granito vermelho presentes na mesquita dentro das muralhas da fortaleza também são provavelmente reaproveitadas do antigo farol.
De fato, três pilares na cidadela provavelmente datam da estrutura original do farol.
Símbolos de continuidade histórica
A reutilização desses materiais históricos na cidadela representa mais do que uma mera conveniência construtiva.
Ela simboliza a continuidade entre diferentes eras da história egípcia, desde o período ptolemaico até o mameluco.
Curiosamente, em 2015, o Comitê Permanente do Egito para Antiguidades anunciou planos de reconstruir o monumento do farol próximo ao seu local original.
Atualmente, o Secretariado da Convenção da UNESCO para a Proteção do Patrimônio Cultural Subaquático trabalha com o governo egípcio para adicionar a Baía de Alexandria, incluindo os restos do farol, à lista do Patrimônio Mundial.
Além disso, em 2016, o Ministério de Antiguidades planejou transformar as ruínas submersas em um museu subaquático, permitindo que visitantes contemporâneos mergulhem literalmente nesta fascinante conexão histórica.
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Transformações ao longo dos séculos
Ao longo dos séculos, a Cidadela de Qaitbay enfrentou inúmeros desafios que transformaram sua estrutura original, testemunhando períodos de destruição e renascimento que moldaram sua aparência atual.
Danos causados por terremotos e guerras
A fortaleza medieval de Qaitbay, assim como o Farol de Alexandria que existia anteriormente no mesmo local, sofreu com diversos terremotos ao longo de sua história.
O próprio farol havia sido destruído após um devastador terremoto ocorrido no ano 702 do calendário islâmico, durante o reinado do Sultão al-Nasir Muhammad ibn Qalawun.
Durante quatro séculos, os muros da cidadela foram dominados por um minarete, demonstrando sua importância religiosa, até que este elemento arquitetônico foi destruído pela marinha inglesa.
O bombardeio britânico de 1882
O evento mais devastador na história recente da cidadela foi, sem dúvida, o Bombardeamento de Alexandria pela Frota do Mediterrâneo Britânica, que ocorreu entre 11 e 13 de julho de 1882.
Este ataque foi comandado pelo Almirante Beauchamp Seymour, que estava no comando de uma frota de quinze couraçados da Marinha Real.
O bombardeio, que durou 10 horas e meia, começou às 7h00 da manhã de 11 de julho, quando o Almirante Seymour, a bordo do HMS Invincible, ordenou o ataque às fortificações de Ras El Tin.
Durante o conflito, os navios britânicos como o HMS Alexandra, HMS Sultan, HMS Superb e HMS Inflexible concentraram suas baterias nas defesas egípcias. Consequentemente, a cidadela foi severamente danificada, deixando rachaduras em suas paredes.
Reconstruções e restaurações modernas
Após os danos causados pelo bombardeio britânico de 1882, a fortaleza passou por diversas restaurações importantes. No século XIX, o governante egípcio Muhammad Ali Pasha ordenou uma primeira restauração.
Posteriormente, a cidadela foi reconstruída por volta da virada do século XX, durante o reinado do Rei Farouk. A última grande restauração ocorreu em 1954.
A Agência Árabe de Antiguidades também realizou reformas na cidadela em 1904.
Atualmente, a estrutura que podemos observar não corresponde à fortaleza original construída pelo Sultão Qaitbay, sendo resultado destas múltiplas intervenções ao longo dos séculos.

A cidadela hoje: entre história e turismo
Atualmente, a Cidadela de Qaitbay abandonou completamente sua função militar original, transformando-se em um vibrante ponto turístico que preserva a memória histórica de Alexandria enquanto oferece experiências contemporâneas aos visitantes.
Museu naval e artefatos históricos
No coração da cidadela de Qaitbay do Egito encontra-se um pequeno museu naval, instalado desde 1952, quando a propriedade da fortaleza foi transferida para o Museu Marítimo.
Este museu, distribuído em três andares, abriga numerosos artefatos e achados aquáticos.
Entre as peças mais notáveis da coleção estão objetos pertencentes à frota de Napoleão que naufragou na baía de Alexandria em 1798, resultado da extraordinária estratégia naval do almirante Nelson.
Vista panorâmica e arquitetura interna
A estrutura interior da cidadela revela uma rica composição arquitetônica. Ao entrar na fortaleza, os visitantes passam por uma imponente porta construída com grandes peças de granito, provavelmente obtidas do antigo farol.
O primeiro andar abriga uma mesquita considerada a mais antiga já construída em Alexandria, embora não esteja mais em uso religioso.
Do topo da cidadela, os turistas são recompensados com vistas panorâmicas deslumbrantes do Mar Mediterrâneo e da cidade, especialmente impressionantes durante o pôr do sol.
Esta perspectiva privilegiada permite compreender a importância estratégica que a fortaleza teve ao longo dos séculos.
Atrações ao redor da cidadela
A península que conduz à cidadela de Qaitbay transformou-se numa área extremamente popular entre pescadores e famílias locais. Normalmente, o local está repleto de uma agradável multidão que aproveita a vista para o mar.
Ao longo da rua que leva à fortaleza, alinham-se diversos restaurantes e sorveterias, criando uma atmosfera animada.
Nas imediações da cidadela, encontra-se também um pequeno aquário e, no lado oeste, um movimentado mercado de peixes.
Desde 1984, o governo egípcio tem realizado extensos trabalhos de restauração para preservar a importância histórica deste monumento, consolidando-o como um dos locais históricos mais populares do país, frequentemente incluído nos roteiros turísticos de Alexandria.
A Cidadela de Qaitbay é um símbolo histórico de Alexandria, construída sobre as ruínas do antigo Farol. Hoje, abriga um museu naval e encanta visitantes com sua arquitetura e vista para o Mediterrâneo.
É um elo entre o passado glorioso e a vida moderna da cidade.
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